O poema “Congresso Internacional do Medo” foi escrito por Carlos Drummond de Andrade, e foi publicado no livro “Sentimento do Mundo”, lançado em 1940. O poema aborda a ideia de que o medo é uma emoção universal que une a todos nós, independentemente de nossas diferenças políticas, culturais ou sociais.
Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
O poema começa com a afirmação de que, por enquanto, não se cantará o amor, que se encontra escondido nos subterrâneos, mas sim o medo, que esteriliza os abraços. O autor argumenta que o medo é um companheiro constante, e que não se deve cantar o ódio, pois este não existe como uma emoção autônoma, mas é fruto do próprio medo.
Ao longo do poema, o autor cita vários tipos de medo, desde os medos mais primitivos, como o medo dos sertões, dos mares e dos desertos, até os medos sociais, como o medo dos soldados, das mães e das igrejas. O autor também fala dos medos políticos, dos ditadores e dos democratas, mostrando que o medo é um elemento presente em todas as esferas da vida.
Por fim, o autor conclui que todos morreremos de medo, e que sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas. Essa imagem final é simbólica, mostrando que o medo é algo que transcende a vida, e que mesmo após a morte, ele continua presente na forma de flores amarelas, que simbolizam a fragilidade e a transitoriedade da vida.
Análise da primeira parte do poema:
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
A primeira parte do poema “Congresso Internacional do Medo” de Carlos Drummond de Andrade começa com uma afirmação provocativa de que, “provisoriamente”, não se cantará o amor, que se encontra escondido nos subterrâneos. Em vez disso, o poema escolhe cantar sobre o medo, que é apresentado como uma emoção mais universal e presente em nossas vidas cotidianas.
O autor afirma que o medo esteriliza os abraços, uma afirmação que sugere que o medo pode impedir a intimidade e a conexão entre as pessoas. Em contraste, o amor é muitas vezes visto como uma emoção que nos une e nos conecta.
O poema segue afirmando que não se cantará o ódio porque ele não existe como uma emoção autônoma. O ódio, de acordo com o autor, é apenas uma manifestação do medo, o qual é apresentado como nosso “pai e nosso companheiro”, indicando a sua presença constante e inerente na natureza humana.
Com essa escolha temática, Drummond sugere que a compreensão do medo é fundamental para entender a condição humana e como as emoções e comportamentos estão relacionados a ele. A primeira parte do poema é uma crítica sutil à nossa incapacidade de enfrentar e lidar com o medo, que muitas vezes nos impede de nos conectarmos com os outros e nos leva a manifestar emoções negativas, como o ódio.
Análise da segunda parte do poema:
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas
A segunda parte do poema “Congresso Internacional do Medo” de Carlos Drummond de Andrade apresenta uma lista de diferentes tipos de medo que existem no mundo. O poema destaca que o medo não é uma emoção limitada apenas a alguns indivíduos, mas uma emoção compartilhada por todos, independentemente de suas crenças, cultura ou posição social.
Drummond começa a segunda parte do poema apresentando alguns medos primitivos e universais, como o medo dos sertões, dos mares e dos desertos. Esses são medos que se originam da natureza e do desconhecido e que têm sido parte da experiência humana desde tempos imemoriais.
O autor continua a lista, apresentando o medo dos soldados, o medo das mães e o medo das igrejas, destacando a variedade de medos que afetam diferentes indivíduos em diferentes contextos. O poema também menciona o medo dos ditadores e dos democratas, mostrando que o medo é uma emoção presente não apenas nos indivíduos, mas também nas esferas políticas.
Ao apresentar essa lista de diferentes medos, o poema destaca a universalidade do medo e sua presença constante na vida humana. A lista também sugere que o medo pode ser um fator que nos une como seres humanos, ao invés de nos separar uns dos outros. Essa segunda parte do poema mostra como o medo é uma emoção complexa e multifacetada que tem muitas fontes e muitos alvos, o que torna difícil abordá-la de forma simples ou direta.
Análise da terceira parte do poema:
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
A terceira parte do poema “Congresso Internacional do Medo” de Carlos Drummond de Andrade aborda especificamente os medos relacionados à morte. O poema sugere que o medo da morte e o medo do desconhecido após a morte são algumas das emoções mais profundas e inerentes à condição humana.
Drummond apresenta uma imagem poderosa e angustiante de pessoas morrendo de medo. Essa imagem sugere que o medo da morte pode ser tão avassalador que pode consumir a vida de uma pessoa, mesmo antes de sua morte física. A escolha da palavra “morreremos” para descrever o medo reforça a ideia de que o medo pode ser tão esmagador quanto a própria morte.
O poema termina com uma imagem poética e intrigante de flores amarelas e medrosas crescendo sobre nossos túmulos. Essa imagem pode ser interpretada de várias maneiras, mas sugere uma conexão entre a vida e a morte, entre o medo e a beleza. As flores amarelas simbolizam a esperança e a alegria, enquanto o medo simboliza a dor e a tristeza. A coexistência desses dois elementos na imagem final sugere que a vida é uma mistura de alegria e tristeza, e que o medo é uma parte inerente dessa mistura.
Qual o significado e a importância do poema para a cultura brasileira?
O poema “Congresso Internacional do Medo” de Carlos Drummond de Andrade é um retrato profundo e comovente da condição humana, especialmente no contexto histórico em que foi escrito. O poema aborda o medo como uma emoção universal que afeta todas as esferas da vida, desde o amor até a política, e sugere que a sociedade brasileira da época estava repleta de incertezas e medos.
O poema tem um significado importante porque destaca a importância de reconhecer e enfrentar nossos medos. Ao falar sobre o medo da morte e do desconhecido após a morte, Drummond nos lembra que a vida é breve e que devemos enfrentar nossos medos e viver plenamente enquanto ainda podemos.
Além disso, o poema é significativo porque desafia a ideologia do Estado Novo de Vargas, que enfatizava o nacionalismo e o controle do Estado sobre a cultura e a sociedade. Ao falar sobre o medo como uma emoção universal e incontrolável, o poema sugere que o Estado não pode controlar todas as emoções e aspectos da vida das pessoas.
Em resumo, o poema “Congresso Internacional do Medo” é um poderoso retrato da condição humana e uma crítica sutil à ideologia política da época. Ele continua relevante hoje como um lembrete da importância de enfrentar nossos medos e lutar contra a opressão política e social.
Qual o contexto histórico do poema?
O poema “Congresso Internacional do Medo” de Carlos Drummond de Andrade foi publicado em 1940, no livro “Sentimento do Mundo”. Esse período da história do Brasil foi marcado por profundas mudanças políticas, sociais e culturais.
Na década de 1930, o país passou por um processo de modernização liderado pelo presidente Getúlio Vargas. Esse processo incluiu a industrialização, a urbanização e a criação de leis trabalhistas e previdenciárias. Ao mesmo tempo, o governo de Vargas também foi marcado por repressão política, censura e violação dos direitos humanos.
O poema de Drummond reflete esse contexto histórico de incertezas e medos que estavam presentes na sociedade brasileira na época. O autor aborda questões políticas e sociais, como a ditadura e a democracia, mostrando que o medo é um fenômeno presente em todas as esferas da vida.
Além disso, o poema também pode ser interpretado como uma crítica à ideologia do Estado Novo de Vargas, que enfatizava o nacionalismo e o controle do Estado sobre a cultura e a sociedade. Ao descrever o medo como uma emoção universal e incontrolável, o poema sugere que o Estado não pode controlar todos os aspectos da vida das pessoas.
o contexto histórico do poema não teria mais a ver com a Segunda Guerra Mundial?
Você tem razão, o contexto histórico do poema “Congresso Internacional do Medo” de Carlos Drummond de Andrade também está ligado à Segunda Guerra Mundial, que aconteceu entre 1939 e 1945. Durante esse período, o mundo estava mergulhado em conflito e a incerteza e o medo permeavam todas as esferas da vida.
No Brasil, o governo de Getúlio Vargas mantinha uma posição de neutralidade em relação à guerra, mas a população estava preocupada com as possíveis consequências para o país. Além disso, o governo também implementou medidas repressivas e censurou a imprensa para evitar a disseminação de notícias negativas sobre o país.
O poema de Drummond pode ser visto como uma reflexão sobre o medo e a incerteza que as pessoas estavam vivenciando durante esse período turbulento da história mundial. O poema descreve o medo como uma emoção universal que afeta todos os aspectos da vida, desde o amor até a política, sugerindo que o medo estava presente em todos os lugares durante a guerra.
Em resumo, o contexto histórico do poema “Congresso Internacional do Medo” de Carlos Drummond de Andrade está ligado tanto à situação política e social do Brasil durante a Era Vargas quanto à Segunda Guerra Mundial, que afetou profundamente todo o mundo na época.