A Criação de Adão de Michelangelo

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Uma das obras de arte mais reconhecidas no mundo, A Criação de Adão de Michelangelo é um importante patrimônio material e artístico, cuja expressão é carregada de simbologias e influências artísticas de sua época. A pintura pertence ao conjunto de afrescos presentes na Capela Sistina, no Vaticano. A obra foi pintada pelo artista Michelangelo Di Lodovico Buonarroti Simoni, a pedido do papa Julio ll dela Rovere.

Apesar da relutância do artista em aceitar o pedido, em 1508 começou o projeto e alterou o clássico teto estrelado por uma combinação de imagens que retratam diversas passagens bíblicas, reencenando cenas principalmente do livro de Gênesis. A obra foi finalizada apenas em 1512, tornando-se um dos principais pontos de visitação turística no Vaticano. O afresco inteiro mede 13,75m x 39m, enquanto A Criação de Adão mede 280cm x 570cm. Toda a obra está localizada no Palácio Apostólico da Cidade do Vaticano.

a criação de adão

A Criação de Adão é apenas uma das obras presentes no teto da capela, que conta com a imagem de cerca de outros 300 personagens bíblicos em obras que complementam e criam uma linearidade histórica em todo o conjunto da obra. A composição da obra A Criação de Adão tem de ser compreendida com as demais obras em ordem cronológica: A Separação da Luz e das Trevas, O Pecado Original, A Expulsão do Jardim do Éden e O Dilúvio. Há ainda outros retratos ao redor destas principais obras que apresentam imagens de profetas e anjos católicos. Há, ainda, estudos que explicam uma possível mensagem subliminar na obra A Criação de Adão, destacando-a entre todas as demais pinturas do afresco.

História de Michelangelo

Nascido em 1475, na região de Caprese, Michelangelo foi um artista à frente de seu tempo. Esteve em Florença entre 1488 e 1495, onde foi aprendiz de Domenico Ghirlandaio, com quem pôde desenvolver seus dotes em pinturas de afrescos e de Bertoldo di Giovanni, com quem aprendeu as técnicas da escultura em pedra. Apesar de ser conhecido pela pintura do afresco, o artista se considerava mais escultor do que pintor, sendo a escultura a sua maior paixão.

A Criação de Adão: Técnica utilizada

A obra de arte sacra apresenta diversas referências à anatomia humana, como o formato de cérebro no entorno da imagem de Deus junto aos anjos. A técnica utilizada pelo artista foi a de afresco, que é a pintura realizada em paredes ou tetos tanto interna como externamente. Assim, a base deixa de ser a tela para dar lugar a estruturas físicas, onde o artista utiliza-se de gesso, argamassa e tinta para realizar a obra. Trata-se de uma pintura em estilo mural, muito comum em igrejas e templos católicos.

A intenção de Michelangelo ao pintar a obra com todas as referências ao humano era representar, ainda que dentro de um ambiente eclesiástico, o contexto de sua época que valoriza o proveniente do ser humano, e não do divino. A obra pertence ao período histórico do Renascimento cultural, do Humanismo e do Racionalismo, valores estes que vêm ocupar o lugar que até então pertencia única e exclusivamente à Igreja Católica no ambiente ocidental da Europa.

michelangelo

A produção de conhecimento, a fonte de saber e da verdade única e toda a organização social eram vinculadas diretamente à instituição da Igreja, o que vai de encontro com as concepções vanguardistas do momento, que colocavam o homem como o centro de produção de conhecimentos e de ciência. Esta incongruência é um fator que despertou a atenção de muitos artistas posteriores que enxergam na obra de Michelangelo diversas referências a esta nova forma de compreender e ler o mundo. Graças a esse dualismo de ideias, surgiram diversas hipóteses que dão novos sentidos à pintura do afresco.

As teorias sobre A Criação de Adão giram em torno das representações do humanismo e da racionalidade do homem na obra religiosa. A relutância do artista Michelangelo estava justamente no fato de seus estudos em anatomia e em métodos científicos irem contra os dogmas católicos da época. Buscando manter sua conduta humanística e influenciada pela ascensão do racionalismo, o pintor então tentou representar imagens diretamente ligadas à fisiologia humana dentro de sua obra, ainda que de maneira indireta.

Assim, o entorno da imagem de Deus em tons de rosa onde estão os anjos e possivelmente a imagem de Eva condiz com o formato e as partes até então conhecidas do cérebro humano. Dessa forma, acredita-se que o autor tenha buscaco representar as ideias do Renascimento cultural, junto com o Humanismo e o Racionalismo. O momento era de apreço às ciências pensadas pelo homem, como a filosofia e a matemática, o que vai de encontro à proposta da instituição católica.

Ainda assim, a teoria condiz em afirmar que não apenas nesta obra, mas em outras partes do afresco, há referências a órgãos do corpo humano, em uma tentativa do autor em manter para a posteridade as influências racionalistas de sua época.

Há ainda estudos que explicam uma possível mensagem subliminar na obra A Criação de Adão. Para muitos especuladores, o próprio título da obra pode apresentar uma dupla interpretação. A Criação de Adão pode se referir à criação bíblica propriamente dita, onde Deus dá o sopro da vida ao homem através da figura de Adão, ou, ainda, levando em consideração a imagem do cérebro humano representada na obra, poderia ser Deus a criação do homem, fruto de sua própria capacidade criativa e racional.

Essa inversão da lógica estaria ligada a toda a proposta de Michelangelo em esboçar mais da parte racional do homem, tirando o enfoque literal da obra bíblica, ainda que a pintura esteja presente dentro de uma capela. A audácia desta interpretação a leva a ser considerada apenas uma mensagem subliminar, interpretada por contemporâneos.

Curiosidades sobre A Criação de Adão

Esta pintura mais famosa retrata o momento simbólico em que Deus dá a Adão o sopro da vida através do toque do dedo do Criador. A pintura está localizada mais ao centro do teto da capela e é uma das obras mais famosas da cultura católica, tendo diversas releituras em culturas contemporâneas. Outra curiosidade sobre a obra é quanto ao dedo indicador de Adão, que já não é a mais parte original da obra, uma vez que teve de ser reconstituído por outro artista anos mais tarde devido à queda de parte do teto da capela, que então precisou passar por uma restauração.

Outras obras de Michelangelo também desta época são as esculturas em mármore de Baco, Davi e a Pietá. Há relatos da época que comprovam a genialidade do artista em esculturas. Seu método de confecção diferenciava dos demais artistas, que faziam o molde da obra e aos poucos aperfeiçoavam os detalhes do corpo.

Michelangelo, entretanto, iniciava a obra como se fizesse o personagem saltar de dentro da pedra de mármore, realizando o passo a passo da obra por partes perfeitamente esculpidas, de cima para baixo ou de dentro para fora. O artista dizia sentir a presença da obra no interior da pedra, cumprindo apenas o ofício de fazê-la sair, como um ato mais natural e artístico do que simplesmente criar a obra a partir da matéria prima.